“É um absurdo que esses irmãos tenham se irritado com meu filho. Foi um motivo fútil, um ato de covardia”. É assim que a diarista Heime Souza, 36, descreve o assassinato do marido, o jardineiro Cleidson Alves Campos, 40, morto a tiros por um vizinho que se irritou quando o filho do casal, de 4 anos, apertou várias vezes a buzina de um carro.
Ela contou ao UOL que Enzo foi diagnosticado com autismo e hiperatividade e que testemunhou o crime, na noite de sábado (25).
Como acontecia todos os sábados, o jardineiro estava cuidando dos filhos quando decidiu parar num bar do bairro para conversar com colegas —o vizinho e o irmão dele eram colegas de infância de Cleidson na região de Venda Nova, em Belo Horizonte (MG). O filho ficou no carro.
“Eles se conheciam, não era para ter terminado assim”, falou Heime. “Me contaram que o Enzo começou a buzinar, o que teria irritado um dos colegas do Cleidson. Eles começaram a discutir e acho até que saíram no braço. O irmão desse colega começou a fazer ameaças, e o Cleidson achou melhor trazer as crianças de volta para mim.”
Depois de receber Enzo e a irmã em casa, a diarista foi até a casa dos irmãos para entender o que estava acontecendo. Foi quando viu do portão o vizinho exaltado. Ela então tentou explicar que Enzo era autista e estava apenas brincando com a buzina, sem intenção de irritar ninguém.
“Eu disse que se ele e irmão não parassem de ameaçar o Cleidson, eu ia chamar a polícia. Daí esse colega se irritou novamente e bateu na minha mão, jogando meu celular no chão. Eles começaram a discutir de novo, o irmão entrou na casa e, quando voltou para a rua, onde a gente estava, começou a atirar”, descreveu.
Segundo Heime, o suspeito deu vários tiros à queima-roupa no jardineiro, que caiu no chão, e continuou atirando depois disso.
“Eu comecei a gritar, pedindo por socorro. O Cleidson estava lá, caído, todo ensanguentado, mas ainda vivo. Ele até tentou levantar. Uns moleques então me ajudaram a colocar ele num carro e fomos até o hospital. Mas ele não resistiu, teve uma parada cardíaca.”
Heime conta que os moradores da região estão revoltados com o que aconteceu e que os irmãos fugiram. Folhetos com a foto deles foram espalhados pelo bairro.
Sem a ajuda de Cleidson, ela teme não conseguir um tratamento para o menino no sistema público de saúde.
“Sem um acompanhamento psicológico, a tendência é que ele fique cada vez mais irrequieto e violento. Ele era muito apegado ao Cleidson e ainda não sabe que o pai não irá mais vê-lo”, falou.